A maior tristeza para a pessoa é não acreditar em si mesmo e não se sentir amado, chegar a duvidar do amor e não poder contar com a certeza de que alguém o ama. Disto surgem todos nossos problemas, dificuldades e até doenças. É importante, então, que cada um se pergunte: “Sinto-me amado por alguém? Sou capaz de nomear quem me ama? A pessoa ao meu lado realmente me ama? O amor dela por mim resistiu à minha traição, à minha distância?”.
Na era da globalização, das migrações em todas as latitudes, na era em que o homem não quer fronteiras, mas diariamente levanta barreiras; no tempo em que vivencia um complexo de onipotência que o faz declarar sua autonomia onipotente, apesar de se encontrar fechado em uma armadura de medos e inseguranças, podemos dizer com total confiança que há um antídoto: a vida de relacionamentos, priorizando relacionamentos verdadeiros, escolhendo o “nunca sem o outro”.
A relação autêntica, a que damos o nome de comunhão, no mundo de hoje é paradigma de uma nova antropologia, de uma nova sociologia e podemos dizer também de uma nova eclesiologia, já preconizada pelo Concílio Vaticano II: “A Igreja universal apresenta-se como “Um povo que deriva a sua unidade da unidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo” (LG 4). Cada homem, cada povo, cada sociedade são chamados a reconhecer na alteridade de qualquer “tu” um caminho imprescindível para uma existência sustentável. Em particular, os cristãos são chamados a oferecer relações de comunhão para um novo paradigma cultural e social, que passa pelo reconhecimento de que Deus está presente em qualquer “tu”: “Quem acolhe uma só destas crianças me acolhe” (Mt 18,5).
A necessidade de primazia, a busca frenética da perfeição, da excelência, a luta para superar todos os limites aprisiona o homem na competição, na ansiedade e na depressão, numa solidão dilacerante em que não há lugar para o outro, o diferente, o estranho, o pequenino; na qual não há espaço para fraqueza e fragilidade. Estamos construindo um mundo de super-heróis, de robôs perfeitos capazes de superar os limites impostos pela natureza humana, e é bem-vindo que as novas tecnologias ajudem a quebrar barreiras e superar obstáculos. Mas “nunca sem o outro”. O homem e a mulher não podem prescindir do seu crescimento e equilíbrio a partir de uma relação autêntica, de um amor capaz de apoiá-los nas experiências mais dolorosas da sua vida, na partilha dos momentos mais alegres… Assim como não podemos considerar “descarte” quem super-herói não pode ser, mas a quem devemos reconhecer a mesma dignidade majestosa reservada a cada homem.
Por isso, é importante que cada um deixe a percepção de ter se sentido amado voltar à consciência, lembrar seu encontro com o Amor, e por isso poder responder ao Amor, a esse “Tu” que encontramos ao nosso lado em cada momento da nossa vida, mesmo quando estamos sozinhos e nos sentimos humanamente abandonados ou fracassados, um “Tu” que nos impele a procurar, a fazer, a desejar a experiência do encontro com um Deus Família, um Deus Trindade. Um Deus, que justamente para ser tal é “Nunca sem o Outro”, um Deus que é Pai, Filho e Espírito Santo; um Deus, na verdade, família.