A pandemia está incidindo com força na vida social e econômica de todos, de modo particular nas situações mais vulneráveis. Uma mudança que muitas vezes traz o sinal negativo.
O grupo missionário Casais CMT do norte da Itália, desejando alargar o olhar além de seus próprios confins, se colocou na escuta da realidade brasileira deste momento. Durante uma das conexões mensais, as missionárias de Jundiaí – SP Brasil, intervieram apresentando o que está vivendo a população.
Devido à pandemia, sobretudo nos territórios e áreas mais vulneráveis do País, o vírus se espalha com força e rapidez, junto com uma precariedade sanitária, social e econômica cada vez maior. Alguns dados ajudam a entender a situação.
Muitas famílias, que vivem uma condição econômica difícil, deveriam sobreviver com o “Bolsa Família” de R$179,00, sendo que um botijão de gás para cozinha custa mais da metade e uma cesta básica com os alimentos essenciais para o sustento mensal de uma família, custa quatro vezes ou mais.
Cerca de 3,4 milhões de pessoas neste tempo caíram na extrema pobreza, levando em conta o patamar de renda de U$1,90 por dia, usado pelo Banco Mundial. Isso leva as pessoas a venderem seus bens essenciais como as panelas, em troca de poucos reais para adquirirem pés de galinha, os quais viram almoço e jantar por alguns dias, ou arroz e feijão, alimento quotidiano para muitos.
Em Jundiaí, segundo os dados publicados pela prefeitura, as UTIs estão gravemente sob pressão, com uma taxa de ocupação de 92% na rede pública e 91% na rede particular. O bairro mais atingido, Novo Horizonte, fica a cerca de 3 quilômetros da sede da CMT.
A cada dia a gravidade da situação expõe milhões de pessoas ao vírus, sobretudo os trabalhadores informais, por ter que sair de casa para conseguir o sustento quotidiano para si e as próprias famílias. A alta taxa de usuários dos transportes públicos, e por conseguinte a superlotação, agravam ainda mais a difusão do vírus. Apenas 32% conseguem seguir as medidas de prevenção contra a covid-19; 33% procuram seguir, mas nem sempre conseguem; 30% não conseguem por falta de recurso e 5% desanimados nem tentam.
Tudo isso torna tão importante a solidariedade que cada qual pode manifestar a partir do pouco. Os dados relatam que 8 de 10 famílias não teriam possibilidade de se alimentar e adquirir meios e bens de primeira necessidade se não recebessem alguma ajuda por parte de associações de voluntariado, da igreja ou civis, ou simplesmente por parte dos vizinhos.
A solidariedade porém não fica parada e corre ao longo de todas as latitudes. Uma vizinha de casa das missionárias, em Jundiaí, desejou doar, como sempre, alguns alimentos e produtos de primeira necessidade. Foi a última vez: após alguns dias foi internada e faleceu por causa da covid-19. Muitos dons são partilhados com outras associações locais, que distribuem entre as pessoas com dificuldades.
Uma senhora da Itália central, que lutou contra coronavírus, se aproximou dos missionários dizendo: Ter ficado entre a vida e a morte permitiu-me compreender que o sentido de meu existir é doar vida ao meu redor e além de minha cerca. Por isso desejo me comprometer a cada mês com uma doação para contribuir para o projeto “Chaves da Vida”, que vocês desenvolveram para ajudar adolescentes e jovens que vivem situações de precariedade.
Fabio Mescalchin, membro do grupo missionário casais do norte da Itália, há bastante tempo guardava, por conta de um amigo, um equipamento para jardinagem. Colocando ordem no depósito de ferramentas, reparou que estava inutilizada. Entrou em contato com o amigo para ver o que devia fazer com o equipamento. Nasceu a ideia de vendê-la e doar o correspondente para a missão.
Faz mais de um ano que nossa vida familiar, social e de trabalho mudou radicalmente.
Também os encontros do grupo de casais tiveram que mudar. Agora acontece online, como a maioria das reuniões hoje em dia. Isso faria pensar que o calor, a profundidade, o construir família tenha desaparecido. Não, pelo contrário!
O desejo de se encontrar, de acreditar na Palavra de Deus e de crescer como pessoas é bem mais forte do que este tempo tão duro e de provação!
Deus vence a distância, o medo, o jeito de se encontrar… Partimos com pouco, trocando uma saudação, e depois algumas notícias de família a mais, até aprofundar através da Palavra de Deus. Aos poucos tomamos coragem.
Através de uma conexão com a missão de Jundiaí – SP Brasil, descobrimos mais uma vez que não existimos somente nós, e que o irmão mais pobre nos ensina a ser mais solidários, doando o que temos e somos, fortalecendo nossa fé.
Agradecemos por este tempo tão estranho, por esta experiência de encontro com outros casais, com a Palavra, com os missionários, com Deus e com o irmão pobre, que é sempre mestre de vida.
Ringraziamo per questo strano tempo, per questa esperienza di ritrovo con altre coppie, con la Parola, con i missionari, con Dio e con il povero, che è sempre di grande esempio.
Obrigado, Elisa e Giampaolo Luppi, Colaboradores CMT
O testemunho dos irmãos nos ensina a prestar mais atenção ao nosso redor, perto e longe de nós e nos estimula a realizar aquela verdadeira transformação de sinal positivo.
Esperamos que a partir de tanta dor que está tocando a humanidade possa desabrochar um estilo de vida mais justo e fraterno em todas as latitudes, feito de empatia, solidariedade, proximidade e escolhas concretas.